quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Intransitivo


Entre uma leitura e outra o pensamento se perde. Caminha. Vazio afora, boas lembranças povoam a mente ao passo que um agradável sorriso se segue. Uma certeza: é bom o sabor da vida. Respeito a vontade externada pelo pensamento e decido narrar seus passos. Talvez os mais sensatos me dissessem para  retornar à leitura, considerando ser este lapso um desperdício de tempo precioso. Mas não. Simplista demais. Um mundo por trás desta viagem. No distanciamento do pensamento, convido o ar a ventilar as ideias e os conceitos serão muito melhor acamados no retorno. Então, por onde andará o pensamento? Longe e ao mesmo tempo aqui. Sigo suas pegadas, como fiel sombra em tempos de sol. Ele te visita. Pela fresta da porta contempla teu sono, acompanha tua respiração, te sente. Ousado, se aproxima e  sopra em tua face o desejo de que tenhas o sono dos anjos. Agora, sentado à beira da tua cama, te acaricia os cabelos, escorrega a mão pelo teu rosto. Poderia ficar ali até o fim. Nada mais importante. O mundo é aquilo. Intransitivo. Fala por si. Para mim, todo o sentido. Mas a razão vem me chamar. Questiona-me se devo  mesmo invadir teu espaço, furtar-te um pouco na calada da noite e desenhar em seguida todo um enredo, faça ele sentido ou não. Digo que sim, que devo; não moro  mais em mim. Há tempos fiz as malas. Rumo e tempo sem definição... Saciado o desejo do imaginário, que neste instante se vê em paz, hora de voltar. Antes de sair, ele  puxa teu lençol bem comedidamente e te protege de qualquer frio que queira tecer importunações. Aqui, novamente, já em companhia do pensamento, a dúvida: consigo me estender um pouco mais pela causa nobre que é a ciência, ou prevalecerá minha insuficiência? Dado o adiantado da hora e a iminência de soar o canto das aves que  primeiro acompanham o nascer do dia, me rendo. O pensamento e as palavras me conduziram ao melhor passeio possível; te fizeram presente. Agora me despeço. É certo,  muito melhor que antes.

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