quarta-feira, 7 de maio de 2014

Escusas



Será que um dia eu vou me desculpar por ter dançado pouco com meu par, pelas histórias que deixei passar, pelo carinho que não soube dar, pelos conselhos que ousei falar, por ter topado sem pestanejar?

Será que um dia eu vou me perdoar pelos escritos que deixei de ler, pelas angústias que vivi pra crer, por tudo aquilo que não pude ter, pelos perigos que paguei pra ver, pela pessoa que não deu pra ser?

Será que um dia eu vou me acalentar pelos perdões que deixei de pedir, pelos locais onde não pude ir, pela vontade de daqui partir, por ter ficado um instante sem rir, pelas verdades que me fiz ouvir?

Será que um dia eu vou me tolerar por não ter tido jeito com a dor, pela aparência sem tirar nem por, pelas andanças sem olhar a flor, por não ter posto um pouco mais de cor, por não ter sido nada além de amor?

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O ciclo vicioso do dizer



Não sei o que quis dizer com aquilo que disse antes. Eu só sei que disse o que era para dizer. Então, se é para dizer, eu digo. Talvez o dito não tenha sido bem dito. Mas bendito seja aquilo que de qualquer modo é dito. Dizer é mais digno do que calar. Calar encalece nossos não ditos. É possível que não seja de seu alcance o meu dito. Mas de qualquer sorte algum alcance terá. Assim, um dito pode dizer muito além do que foi dito. E o ciclo do dizer não findará.

Insight



Eu não sou daqui.
Não?
Não.
Então por que aqui estou?
Coisas de um inverno longo.
Então por que aqui fico?
Não.
Não?
...
Eu estou aqui.

terça-feira, 11 de março de 2014

Mais cor, por favor

A nossa passagem por esta vida é curta demais e tem muita gente (e eu me incluo) dando mole à toa. Por que viver de angústias, se podemos tentar dar um peso menor às coisas? Por que se fechar contra as pessoas que supostamente fizeram, disseram, pensaram algo sem sequer dar uma chance para que os fatos se esclareçam adequadamente? Por que idealizar um mundo pessoal que só na nossa cabeça é perfeito e sair por aí apontando, se a beleza da vida é a diversidade e o quanto podemos crescer com as trocas e experiências? Por que sempre temos noção do quanto estamos certos e de como podemos solucionar o problema do outro, se não colocamos em prática sequer um terço dos nossos conselhos imbatíveis? Por que o "vai ter troco!" tem mais adeptos do que o "deixa pra lá." que vem do coração? Por que abrimos mão tão facilmente de pessoas que sempre foram verdadeiras conosco, se podemos puxá-las para perto do nosso coração ao primeiro sinal de desconforto e colocar os pingos nos I's com ternura? Por que limitar nossas fontes de sorrisos no rosto, se muito mais coisas podem ser o motivo das melhores gargalhadas? As perguntas nós temos; as resposta, se fizermos um esforço pessoal, também. Mas a prática é outra história. E é justamente ela que dá o tom para nossa evolução. Ainda dá tempo de começar a regar nosso interior com mais amor. Sempre dá. Não podemos é perder tempo. Somos muitos espalhados por esta existência, mas meu mundo vai ser da cor que eu pintar e o seu também. Se as cores escolhidas forem as melhores possíveis, tudo fluirá em agradável sintonia. A nós, inspiração sempre!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Lapso



E de repente a consciência me furta da realidade. Tento me situar no espaço e no tempo, mas o mínimo que consigo é sentir a aceleração dos batimentos cardíacos e perceber um deslocamento mental para além de onde se encontra o corpo físico. É tudo desconhecido neste então. Busco-me em mim e nada encontro; tento decifrar a razão, mas é campo intangível.
Entre dúvidas e aflições, a única certeza é a incapacidade de discernir entre o real e o fantasioso. Na mente, esse lapso dura um período longo, porém incomensurável a partir das medidas comumente conhecidas.
De volta ao dito “real”, apodera-me a sensação de ter experimentado um leve delírio. Questiono-me, enfim, se insano não foi me ter permitido voltar.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Métrica descompassada

Nunca tive muito apreço pelas rimas, é bem verdade. Talvez o que exista de belo no som ritmado esteja ainda mais realçado nas palavras dispostas em desalinhos sonoros. Não digo que as rimas não tenham lá seu carisma. Elas têm, e por isso conquistam bons fiéis seguidores. A ressalva é meramente pessoal. Dizer o 'ainda não dito' sem métrica e com a liberdade de alma adoça a poesia. Poético é ser livre. Prazer é fitar o horizonte do mundo interior e sentir a fluidez das insanidades particulares; gritos pulsantes não impressos nas expressões faciais que, enquanto serenas, persuadem o mais crédulos dos passantes numa tarde de quinta-feira aleatória. Feliz é cantar as loucuras que a alma dita em notas musicais de autoria irrefletida. Poder é dominar o mundo inteiro guardado bem aqui, enquanto perde-se as rédeas das tantas amarras presentes no faz de conta da realidade. Rimar é alinhar os versos íntimos no compasso das peculiaridades sem perder a sintonia com o entorno. E, alfim, descobrir que a beleza está na métrica sem padrões que se refaz a cada nova composição. Nas rimas descompassadas construídas a partir dos novos enredos mora a sutileza sonora que embala a caminhada e dá o tom daquilo que é ser. Que sejamos, afinal.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Amor tecido


Porque os minitecelões responsáveis por entrelaçar a matéria-prima do afeto trabalham em silêncio e discretamente dia a dia dentro do nosso peito, a ponto de nem nos darmos conta de que o sentimento cresce um pouco mais a cada dia. Quando, finalmente, atentamos para o que se sucede, a peça está pronta, devidamente bem acabada, e já recobre por inteiro o nosso coração. Como a perfeita trama dos fios tem boa adesão, dificilmente tem volta. E que bom.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Encontrar saídas


Por vezes eu achei que o significado de viver fosse aquele que primeiro aparece nos dicionários: existir, ter vida. Em outros momentos imaginei que o verbo tivesse um sentido mais romântico: tirar proveito das coisas e momentos bons, por exemplo. Mas não. A própria vida mostra com provas irrefutáveis que viver, na verdade, é buscar saídas. Mais que isso. É encontrá-las. E vive melhor quem se depara com as melhores caminho afora.
Às vezes o que mais se quer é um pouco de leveza, normalidade, linearidade, mas, para a existência, essa exigência é grade demais e ela logo puxa você pelo braço e recoloca nos trilhos, aqueles trilhos tortuosos, os trilhos da situação-problema, a fim de desafiar sua resistência e fazer com que você busque, mais uma vez, a resolução.
Eu não sei se o sentido da vida é justamente encontrar as soluções para as dificuldades, eu só sei que, em muitos trechos da procura, a fraqueza é inevitável. Então você cogita parar por ali, abandonar a trilha. Está totalmente decidido! Só que, ao olhar ao redor, se dá conta de que não tem escolha, de que o benefício da desistência não faz parte das cláusulas daquela situação específica.
Sem alternativa, você se reveste de otimismo e imagina que talvez este seja o momento em que as forças se renovam. Mas, e se não se renovarem? Se não se renovarem eu não sei, eu só sei que o caminho é longo e que não há tempo sobrando para perder com filosofias. É melhor continuar caminhando porque daqui a pouco anoitece e o percurso fica mais difícil.

Egoísmo


Não escrevo por você.
Escrevo por mim.
Escrevo pela necessidade que tenho de encontrar sonoros versos.
E é em você que eu os capturo.
Mas não é por você que os resgato e lanço ao papel.
É por mim.
É pela necessidade de ver impresso em teu rosto o prazer de quando percorres com o olhar as palavras que de ti furtei.
As palavras não são minhas.
Tu as põe em minha boca e eu as faço minhas.
São minhas. E quem dirá que não?
Então escrevo.
Mas temo.
Temo revelar-te a ti e temo que descubras meu segredo.
A confidência que guardo em meu peito e que se solidifica quando me pego contemplando-te e planejando os próximos versos.
Os versos teus/meus.
Tão meus.
Eu.

A quatro olhos


É bom olhar a vida lá fora e enxergar as coisas a quatro olhos.
Não vejo mais o mundo de maneira singular.
Vejo o mundo através das minhas 'janelas da alma' somadas às suas.
E isso multiplicou os tons da existência, tornando-a muito mais
atraente, mais agradável, mais vivível.
Preciso dizer qual é a graça? Não preciso, mas direi.
A graça é andar por caminhos antes desconhecidos e experimentar as mais genuínas sensações.
É contemplar a beleza da natureza e doar-lhe os devidos méritos.
A graça é parar no tempo e me perder ao fitar a sua tez.
É rir o sorriso mais sincero.
A graça é aprender e crescer e querer mais disso.
É transitar pelas situações da existência sentindo sempre um braço em torno do ombro.
A graça é passear pela fantasia e pela realidade sem precisar de deslocamento físico.
É sentir-se sempre um dois em um...
E é essa graça que eu quero ter sempre ao meu lado.
Sem precisar buscar razões; tendo todas as razões numa só resposta: o amor.