sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Métrica descompassada

Nunca tive muito apreço pelas rimas, é bem verdade. Talvez o que exista de belo no som ritmado esteja ainda mais realçado nas palavras dispostas em desalinhos sonoros. Não digo que as rimas não tenham lá seu carisma. Elas têm, e por isso conquistam bons fiéis seguidores. A ressalva é meramente pessoal. Dizer o 'ainda não dito' sem métrica e com a liberdade de alma adoça a poesia. Poético é ser livre. Prazer é fitar o horizonte do mundo interior e sentir a fluidez das insanidades particulares; gritos pulsantes não impressos nas expressões faciais que, enquanto serenas, persuadem o mais crédulos dos passantes numa tarde de quinta-feira aleatória. Feliz é cantar as loucuras que a alma dita em notas musicais de autoria irrefletida. Poder é dominar o mundo inteiro guardado bem aqui, enquanto perde-se as rédeas das tantas amarras presentes no faz de conta da realidade. Rimar é alinhar os versos íntimos no compasso das peculiaridades sem perder a sintonia com o entorno. E, alfim, descobrir que a beleza está na métrica sem padrões que se refaz a cada nova composição. Nas rimas descompassadas construídas a partir dos novos enredos mora a sutileza sonora que embala a caminhada e dá o tom daquilo que é ser. Que sejamos, afinal.



segunda-feira, 13 de maio de 2013

Amor tecido


Porque os minitecelões responsáveis por entrelaçar a matéria-prima do afeto trabalham em silêncio e discretamente dia a dia dentro do nosso peito, a ponto de nem nos darmos conta de que o sentimento cresce um pouco mais a cada dia. Quando, finalmente, atentamos para o que se sucede, a peça está pronta, devidamente bem acabada, e já recobre por inteiro o nosso coração. Como a perfeita trama dos fios tem boa adesão, dificilmente tem volta. E que bom.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Encontrar saídas


Por vezes eu achei que o significado de viver fosse aquele que primeiro aparece nos dicionários: existir, ter vida. Em outros momentos imaginei que o verbo tivesse um sentido mais romântico: tirar proveito das coisas e momentos bons, por exemplo. Mas não. A própria vida mostra com provas irrefutáveis que viver, na verdade, é buscar saídas. Mais que isso. É encontrá-las. E vive melhor quem se depara com as melhores caminho afora.
Às vezes o que mais se quer é um pouco de leveza, normalidade, linearidade, mas, para a existência, essa exigência é grade demais e ela logo puxa você pelo braço e recoloca nos trilhos, aqueles trilhos tortuosos, os trilhos da situação-problema, a fim de desafiar sua resistência e fazer com que você busque, mais uma vez, a resolução.
Eu não sei se o sentido da vida é justamente encontrar as soluções para as dificuldades, eu só sei que, em muitos trechos da procura, a fraqueza é inevitável. Então você cogita parar por ali, abandonar a trilha. Está totalmente decidido! Só que, ao olhar ao redor, se dá conta de que não tem escolha, de que o benefício da desistência não faz parte das cláusulas daquela situação específica.
Sem alternativa, você se reveste de otimismo e imagina que talvez este seja o momento em que as forças se renovam. Mas, e se não se renovarem? Se não se renovarem eu não sei, eu só sei que o caminho é longo e que não há tempo sobrando para perder com filosofias. É melhor continuar caminhando porque daqui a pouco anoitece e o percurso fica mais difícil.

Egoísmo


Não escrevo por você.
Escrevo por mim.
Escrevo pela necessidade que tenho de encontrar sonoros versos.
E é em você que eu os capturo.
Mas não é por você que os resgato e lanço ao papel.
É por mim.
É pela necessidade de ver impresso em teu rosto o prazer de quando percorres com o olhar as palavras que de ti furtei.
As palavras não são minhas.
Tu as põe em minha boca e eu as faço minhas.
São minhas. E quem dirá que não?
Então escrevo.
Mas temo.
Temo revelar-te a ti e temo que descubras meu segredo.
A confidência que guardo em meu peito e que se solidifica quando me pego contemplando-te e planejando os próximos versos.
Os versos teus/meus.
Tão meus.
Eu.

A quatro olhos


É bom olhar a vida lá fora e enxergar as coisas a quatro olhos.
Não vejo mais o mundo de maneira singular.
Vejo o mundo através das minhas 'janelas da alma' somadas às suas.
E isso multiplicou os tons da existência, tornando-a muito mais
atraente, mais agradável, mais vivível.
Preciso dizer qual é a graça? Não preciso, mas direi.
A graça é andar por caminhos antes desconhecidos e experimentar as mais genuínas sensações.
É contemplar a beleza da natureza e doar-lhe os devidos méritos.
A graça é parar no tempo e me perder ao fitar a sua tez.
É rir o sorriso mais sincero.
A graça é aprender e crescer e querer mais disso.
É transitar pelas situações da existência sentindo sempre um braço em torno do ombro.
A graça é passear pela fantasia e pela realidade sem precisar de deslocamento físico.
É sentir-se sempre um dois em um...
E é essa graça que eu quero ter sempre ao meu lado.
Sem precisar buscar razões; tendo todas as razões numa só resposta: o amor.