sábado, 15 de setembro de 2012

Quero


Quero óculos novos, vencer quando jogo, nutrir sentimento, notar um talento, andar de mãos dadas, passear de jangada, cantar a canção.

Quero abraço apertado, dormir ao teu lado, sorrir da piada, aprontar trapalhada, fechar a cortina, pular na piscina, ter uma paixão.

Quero criar um bichinho, provar teu carinho, não ter muito tédio, sarar sem remédio, varrer a calçada, saber que é fachada, voar de balão.

Quero pular de um pé só, desatar o nó, mudar o cabelo, ter jeito faceiro, criar um estilo, lembrar tudo aquilo, tremer de emoção.

Quero comer sobremesa, fazer gentileza, olhar da janela, apagar a vela, viver muito tempo, não ter contratempo, falar alemão.

Quero pintar a parede, deitar numa rede, cair sem chorar, correr até cansar, subir a ladeira, aquecer na lareira, ganhar teu perdão.

Quero chorar de saudade, falar a verdade, voar ao espaço, pegar meu pedaço, jogar uma isca, ser dos que arrisca, montar coleção.

Quero andar sem destino, crer no que imagino, amar sem medidas, chorar na partida, escrever um artigo, ter bem mais amigos, encontrar solução.

Quero um livro pra ler, querer e te ter, plantar a semente, sair pela tangente, cantar tudo errado, falar adoidado, beijar tua mão.

Quero banho de chuva, um cacho de uva, compor um barulho, sentir muito orgulho, olhar a esquina, lanchar na cantina, ouvir o coração.

Quero criar poesia, comer a fatia, sorriso no rosto, não pagar imposto, querer o teu bem, ir muito além, não viver em vão.

Sossega


Sossega.
Que poderias fazer, tu, diferente do que tens feito agora?
Sei que terias muito a elencar
E eu também teria inúmeras coisas a te sugerir,
No entanto, te digo apenas,
Sossega.
Cultiva a serenidade antes,
Que tudo, alfim, de precisão se revestirá.
Inclina-te aos objetivos munido de paz interior,
Então terás maiores chances de compreender os resultados, sejam quais forem.
Sossega.
Assovia com a alma até que o som produzido ponha em repouso tua mente.
Povoa o espírito com pitadas e porções generosas de sobriedade.
Faz um afago no teu coração com as mãos da cordura.
Põe calor e menos temor no que fazes.
Sossega.
Respira os ares da mansidão
E espalha pétalas com teus pés pelas escolhas onde andas.
Segura-te naquilo que fomenta a força e a fé.
Caminha sem pressa e com rumo definido, mesmo que o destino seja a falta de rumo.
Aplaina os ruídos.
Daí então, assovia, respira, caminha, sossega... Sossega.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Intransitivo


Entre uma leitura e outra o pensamento se perde. Caminha. Vazio afora, boas lembranças povoam a mente ao passo que um agradável sorriso se segue. Uma certeza: é bom o sabor da vida. Respeito a vontade externada pelo pensamento e decido narrar seus passos. Talvez os mais sensatos me dissessem para  retornar à leitura, considerando ser este lapso um desperdício de tempo precioso. Mas não. Simplista demais. Um mundo por trás desta viagem. No distanciamento do pensamento, convido o ar a ventilar as ideias e os conceitos serão muito melhor acamados no retorno. Então, por onde andará o pensamento? Longe e ao mesmo tempo aqui. Sigo suas pegadas, como fiel sombra em tempos de sol. Ele te visita. Pela fresta da porta contempla teu sono, acompanha tua respiração, te sente. Ousado, se aproxima e  sopra em tua face o desejo de que tenhas o sono dos anjos. Agora, sentado à beira da tua cama, te acaricia os cabelos, escorrega a mão pelo teu rosto. Poderia ficar ali até o fim. Nada mais importante. O mundo é aquilo. Intransitivo. Fala por si. Para mim, todo o sentido. Mas a razão vem me chamar. Questiona-me se devo  mesmo invadir teu espaço, furtar-te um pouco na calada da noite e desenhar em seguida todo um enredo, faça ele sentido ou não. Digo que sim, que devo; não moro  mais em mim. Há tempos fiz as malas. Rumo e tempo sem definição... Saciado o desejo do imaginário, que neste instante se vê em paz, hora de voltar. Antes de sair, ele  puxa teu lençol bem comedidamente e te protege de qualquer frio que queira tecer importunações. Aqui, novamente, já em companhia do pensamento, a dúvida: consigo me estender um pouco mais pela causa nobre que é a ciência, ou prevalecerá minha insuficiência? Dado o adiantado da hora e a iminência de soar o canto das aves que  primeiro acompanham o nascer do dia, me rendo. O pensamento e as palavras me conduziram ao melhor passeio possível; te fizeram presente. Agora me despeço. É certo,  muito melhor que antes.