quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Certa insônia

São exatamente 2h10min da madrugada. Não sei por que motivo não consegui dormir. Até tentei. Virei e me revirei e não encontrei posição aconchegante o suficiente para que o sono viesse. O mundo dorme, aparentemente. Escuto um ruído aqui, outro ali. Os pingos da chuva leve na inspiradora madrugada caem tranquilos. Os pensamentos vêm e vão. Eu me pergunto coisas, imagino outras, fantasio, crio, reinvento.
Confesso que sou encantada pela madrugada. Talvez pela bucólica e enigmática tranquilidade, pelo silêncio inebriante e devastador. Todas as coisas descansam um descanso justo. Porém ao mesmo tempo perdem a oportunidade de respirar este instante misteriosamente mágico.
Bateu uma vontade de caminha pelas ruas agora. Talvez a chuva tenha sido oportuna, portanto. Imaginei-me passeando pelas ruas vazias, recoberta por um agasalho, as mãos acaloradas pelo tecido dos meus bolsos e o vento, o vento a desalinhar os meus cabelos, o vento a arrepiar-me os pelos do corpo, o vento a me conduzir.
Os galos ousadamente me avisam que, enquanto vidas dormem, outras vidas vivem. Lembro-me das histórias contadas pela minha avó nos meus tempos de infância. Reflito sobre minha linha do tempo. Como ela andou rápido. Como as coisas passaram, mudaram, se renovaram quase que imperceptivelmente. E agora estou eu aqui. Só comigo mesma. Só. Envolta em meus delírios idílicos.
Reporto-me novamente à minha infância. É engraçado, pois, se eu me encontrasse nesta mesma situação dez anos atrás, estaria amedrontada, imaginando que esses ruídos que eu não sei ao certo de onde vêm, seriam de algo aterrorizante.
Neste exato momento uma folha cai de cima da estante. Quem a teria derrubado? O que a teria impulsionado? Posso atribuir algum significado a isso? Não. Não eu. Curioso como a madrugada nos aguça a percepção das pequenas coisas.
São 2h30min agora e nem sinal do sono. Sinto que preciso novamente me recolher, afinal esse meu devaneio momentâneo, logo passará. Mas eu vou me permitir ficar nele por mais um curto espaço de tempo. Vou me manter nele recostada. Eu e o nada. Eu e o tudo.
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