sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Métrica descompassada

Nunca tive muito apreço pelas rimas, é bem verdade. Talvez o que exista de belo no som ritmado esteja ainda mais realçado nas palavras dispostas em desalinhos sonoros. Não digo que as rimas não tenham lá seu carisma. Elas têm, e por isso conquistam bons fiéis seguidores. A ressalva é meramente pessoal. Dizer o 'ainda não dito' sem métrica e com a liberdade de alma adoça a poesia. Poético é ser livre. Prazer é fitar o horizonte do mundo interior e sentir a fluidez das insanidades particulares; gritos pulsantes não impressos nas expressões faciais que, enquanto serenas, persuadem o mais crédulos dos passantes numa tarde de quinta-feira aleatória. Feliz é cantar as loucuras que a alma dita em notas musicais de autoria irrefletida. Poder é dominar o mundo inteiro guardado bem aqui, enquanto perde-se as rédeas das tantas amarras presentes no faz de conta da realidade. Rimar é alinhar os versos íntimos no compasso das peculiaridades sem perder a sintonia com o entorno. E, alfim, descobrir que a beleza está na métrica sem padrões que se refaz a cada nova composição. Nas rimas descompassadas construídas a partir dos novos enredos mora a sutileza sonora que embala a caminhada e dá o tom daquilo que é ser. Que sejamos, afinal.



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