Nunca
tive muito apreço pelas rimas, é bem verdade. Talvez o que exista
de belo no som ritmado esteja ainda mais realçado nas palavras
dispostas em desalinhos sonoros. Não digo que as rimas não tenham
lá seu carisma. Elas têm, e por isso conquistam bons fiéis
seguidores. A ressalva é meramente pessoal. Dizer o 'ainda não
dito' sem métrica e com a liberdade de alma adoça a poesia. Poético
é ser livre. Prazer é fitar o horizonte do mundo interior e sentir
a fluidez das insanidades particulares; gritos pulsantes não
impressos nas expressões faciais que, enquanto serenas, persuadem o
mais crédulos dos passantes numa tarde de quinta-feira aleatória.
Feliz é cantar as loucuras que a alma dita em notas musicais de
autoria irrefletida. Poder é dominar o mundo inteiro guardado bem
aqui, enquanto perde-se as rédeas das tantas amarras presentes no
faz de conta da realidade. Rimar é alinhar os versos íntimos no
compasso das peculiaridades sem perder a sintonia com o entorno. E,
alfim, descobrir que a beleza está na métrica sem padrões que se
refaz a cada nova composição. Nas rimas descompassadas construídas
a partir dos novos enredos mora a sutileza sonora que embala a
caminhada e dá o tom daquilo que é ser. Que sejamos, afinal.
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